sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Hugo Chávez, democracia, "Por que não te calas?" e reeleição de Lula

Nos últimos meses, o tema da vontade do PT em que Lula possa ser reeleito mais uma vez não sai da cobertura feita pelos meios de comunicação. Chega a ser cansativa a presença deste assunto. Alguns poderão argumentar que a culpa é do presidente que, ao elogiar Hugo Chávez ou ao falar da permanência de governantes em outros países por muitos anos a frente dos seus governos, confunde a opinião pública nacional, escondendo a vontade de se reeleger novamente. E aí não interessa ele ter negado este plano inúmeras vezes. Não adianta o presidente nacional do partido do presidente, PT, e mais oito partidos se manifestarem repudiando a tese de terceiro mandato para Lula. Os colunistas colocaram isto na cabeça e só um milagre para eles deixarem de acreditar nesta hipótese.
O
problema na permanência desta tese na linha de frente das discussões políticas no país é que formas de aperfeiçoar a democracia brasileira, como referendos, plebiscitos, passam a um segundo plano nesta discussão. É importante salientar que a discussão do terceiro mandato de Lula surgiu de um projeto de lei dos deputados federais Devanir Ribeiro (PT/SP) e Carlos William (PTC/MG) permitindo o Executivo convocar plebiscitos e referendos sobre qualquer assunto. Incluindo aí, a segunda reeleição de cargos executivos. Então o que aconteceu? Os meios de comunicação passaram a dar uma ênfase maior à reeleição e negligenciaram a discussão sobre a participação popular direta. Não há a necessidade de implementarmos formas mais eficientes de convocação de plebiscitos e referendos e facilitar a aprovação de leis de iniciativa popular? Apenas um plebiscito, um referendo e uma lei de iniciativa popular foram implementadas no Brasil desde 1989.
Agora se questiona o apoio de Lula à democracia venezuelana. Há vários aspectos críticos naquela democracia, um exemplo, a repressão feita sobre os estudantes venezuelanos que protestavam contra a aprovação da Constituição venezuelana e não cabe dizer que eles eram filhos da classe média branca, mesmo se forem, eles têm todo o direito de protestar. (Vejam o Cansei, por mais que se discorde dele, ele tem o direito de existir), mas Chávez não cassou a oposição ao seu governo, como podem fazer pensar alguns veículos noticiosos nacionais. A oposição, prevendo uma derrota acachapante, de forma não democrática, desistiu de ocupar o espaço que era seu por direito nas eleições daquele país e permitiu a vitória dos candidatos governistas ao Senado e à Câmara. Agora, o Congresso aprova todos os seus projetos e a mesma oposição que se recusou a participar do processo democrático, reclama da existência de um golpe e que o governo venezuelano é ditatorial.
O presidente da potência petroleira abusa sim, mas todas as suas declarações são recebidas de forma crítica no Brasil. Um exemplo, Chávez afirmou que irá desenvolver um projeto de energia nuclear na Venezuela para bens pacíficos, assim como acontece no Brasil e na Argentina, eis que o Jornal Nacional afirma ser esta uma nova polêmica feita por este presidente. Qual é a polêmica? Não é um direito de qualquer país no mundo utilizar fontes nucleares de energia, por mais que se possa ser contra por não ser uma das energias mais limpas do mundo, o direito deve ser assegurado igualmente para todos, até porque ninguém acha polêmico os Estados Unidos ampliarem o uso da sua energia ou pior, o seu armamento militar.
Para fechar, não se pode deixar de citar o "Por que não te calas?" do rei Juan Carlos de Espanha em relação às acusações de Chávez sobre o facismo do governo de José María Aznar. A cúpula ibero-americana, com certeza, não era o espaço mais apropriado, do ponto de vista diplomático, para que o presidente venezuelano se manifestasse sobre o ex-presidente espanhol ou sobre a exploração feita pela Espanha na época colonial, mas é incompreensível a comemoração da resposta do rei. Um incidente diplomático que pode atrapalhar as relações de duas nações do mundo não deveria ser motivo de comemoração para ninguém, mesmo que tenha chegado a hora de Chávez dar uma maneirada em suas falas. Agora, uma pergunta: não passou da hora da Espanha se desculpar, como o presidente Lula fez em viagem à África, pela exploração feita por aquela nação dos povos latino-americanos?

Vejam o vídeo da Cúpula a seguir:

sábado, 10 de novembro de 2007

PED 2007 - Eleições do PT

Hoje, dia 10 de novembro, aconteceu, em Salvador, o quinto debate dos candidatos à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores. O primeiro turno está marcado para o dia 2 de dezembro e o segundo turno será realizado no dia 16 do mesmo mês. Dos sete candidatos, apenas o candidato da chapa "Construindo um Novo Brasil", formada por membros do ex-Campo Majoritário, o deputado federal Ricardo Berzoini não compareceu ao debate de Salvador. Dos sete candidatos, quatro têm mais chances de chegarem ao segundo turno. São eles Ricardo Berzoini, Jilmar Tatto, José Eduardo Cardozo e Valter Pomar.
Naturalmente, as chapas defendem propostas distintas para os próximos anos do PT, mas dois pontos que as unem são as críticas ao candidato Berzoini e a necessidade do PT ter maior independência na relação com o governo Lula. Tirando estes dois consensos, uma diferença parece ser crucial. Enquanto as chapas "Mensagem ao Partido", "A Esperança é Vermelha", "Partido é Pra Lutar" e
"Militância Socialista" acreditam na defesa do governo Lula, as chapas "Programa Operário e Socialista" e "Terra, Trabalho e Soberania" defendem ser necessária a criação de um governo do PT, não sendo o governo Lula, um governo que simbolize as idéias do partido.
O deputado federal José Eduardo Cardozo, candidato da chapa "Mensagem ao Partido" falou dos diversos apoios que a sua chapa vem recebendo como os dos intelectuais Paul Singer, Marilena Chauí, Maria Vitória Benevides, Maria da Conceição Tavares, dos governadores Jaques Wagner, Ana Júlia Carepa e Marcelo Déda. Além de outras lideranças do partido e do governo como Olívio Dutra, ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, ministro da Justiça, Fernando Haddad, ministro da Educação, entre outros. Cardozo afirmou que sua chapa não é fruto de nenhuma tendência específica do partido e que, se for eleito, fortalecerá o partido e a democracia interna do mesmo, não permitindo que o PT fique a mercê da decisão de uma minoria.
Para ele, a mentalidade que existe no PT de que quem não pensa igual deve ser colocado para fora do partido deve acabar. Cardozo defende ainda a construção de um Código de Ética para o PT. Além do apoio de Wagner, na Bahia, o deputado federal de São Paulo tem o apoio do deputado federal Walter Pinheiro, que, inclusive, integra a chapa nacional.
O atual secretário de relações internacionais do PT, Valter Pomar, candidato da chapa "A Esperança é Vermelha" afirmou que sua chapa tem dois objetivos principais: acabar com a crise do partido que ainda continua e construir uma candidatura petista para 2010. Além disto, Pomar disse ser fundamental que o PT ganhe as eleições de 2008, se reaproxime das forças populares e de esquerda partidárias e dos movimentos sociais e que o partido defenda uma candidatura petista em 2010. Pomar disse que o Partido dos Trabalhadores precisa de dirigentes que digam aos petistas que ocupam cargos públicos que eles estão errados quando assim estiverem. Pomar tem o apoio, na Bahia, dos deputados federais Nelson Pelegrino e Guilherme Menezes.
Pomar aproveitou para criticar as entrevistas do governador Jaques Wagner ao jornal O Estado de São Paulo, na qual Wagner afirmou que o bom momento econômico vivido pelo Brasil começou há 13 anos atrás com a implantação do Plano Real e a do senador Tião Viana que afirmou, em entrevista à revista Isto É, que o PT e o PSDB são partidos irmãos. As críticas a Wagner foram respondidas por Cardozo que, em agradecimento ao apoio recebido por Wagner, disse que o PT não pode desmerecer a importante trajetória do governador da Bahia.
Outro candidato com grandes possibilidades de chegar ao segundo turno, o deputado federal Jilmar Tatto, disse que o PT precisa ser independente em relação ao governo, construindo uma relação institucional com o governo Lula. Segundo ele, o que se tem hoje, é uma relação entre pessoas e não, entre o partido e o governo. Para ele, a militância do partido deve continuar se mobilizando, pois foi ela que salvou o partido na crise de 2005.
Há informações de bastidores que dizem que os eleitores de Tatto não votariam em José Eduardo Cardozo, em um provável segundo turno contra Berzoini e vice-versa. Esta desavença pode favorecer Valter Pomar, pois ele pode ser visto como candidato capaz de articular em torno de si as outras candidaturas e derrotar Ricardo Berzoini. Talvez prevendo esta predisposição, Tatto falou, em Salvador, sobre a necessidade da união de todas as chapas contra a "Construindo um Novo Brasil".
O que ficou mais ou menos claro no debate de hoje em Salvador é que, independente de quem vença, se um dos seis candidatos que estiveram na capital baiana ganhar, o PT caminhará para ter um candidato próprio em 2010. E os nomes mais fortes, neste momento, parecem ser o de Marta Suplicy, defendida pelos membros da "Partido é Pra Lutar", Dilma Roussef e Patrus Ananias, ministros e nomes que poderão ser defendidos por Lula e pela "Construindo um Novo Brasil", além dos nomes de Jaques Wagner que com a defesa manifestada em relação à "Mensagem ao Partido" poderá ter o apoio dos membros desta chapa e Tarso Genro, um dos maiores expoentes da "Mensagem". 2010 ainda está longe, mas as eleições do PT neste ano representarão um passo importantíssimo para a sucessão de Lula.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Acabou a "Crise" na Cultura?

Desde que assumiu o governo da Bahia, Jaques Wagner e seu secretário de cultura Márcio Meirelles resolveram implementar um novo projeto para a área. Na verdade, a inovação se deu já em ter uma secretaria apenas para a cultura, pois, nos governos passados, era uma secretaria para as áreas cultural e de turismo, o que sempre deu em muita confusão entre o que é cultura e o que é atração turística, acarretando em muita produção cultural ter se transformado em produto turístico, o que poderia acabar com a essência cultural de certas manifestações artísticas.
Depois de alguns meses, no entanto, as reclamações começaram a aparecer. A iniciativa do governo Wagner de redistribuir as verbas, repassando mais dinheiro para o interior do estado recebeu duras críticas de pessoas importantes como o ator e diretor teatral Gideon Rosa. Gideon afirmou que esta redistribuição era injusta e como conseqüência colocaria os artistas do interior contra os artistas da capital e transformaria todos em mendigos de repasses públicos.
Além disto, vários artistas reclamaram sobre a demora de apresentar um novo projeto cultural para o estado, porque muitos projetos anteriores haviam sido suspensos para avaliação do novo governo que se iniciava.
Até a primeira dama do estado Fátima Mendonça se manifestou, em entrevista, pedindo mais rapidez na implementação da nova política cultural. Somaram-se a esta demora, as "crises" na Fundação Casa de Jorge Amado, no Museu Carlos Costa Pinto, as manifestações de figuras como o escritor João Ubaldo Ribeiro e a diretora teatral Aninha Franco e pronto, estava configurada a crise do setor cultural da Bahia.
As coisas, porém, parecem estar mudando em relação à tal "crise" na cultura baiana. Em duas semanas, os shows realizados no Pelourinho que haviam sido suspensos voltaram a acontecer; o programa "Sua Nota é Um Show" foi relançado e ampliado, oferecendo agora, além dos shows e jogos de futebol, filmes e outras produções culturais; a Fundação Cultural lançou um pacote de editais; foi assinada a participação da Bahia no programa "Mais Cultura", o PAC da Cultura do Governo Federal. Até quem criticou, passou a se manifestar de maneira diferente. Aninha Franco, protagonista do início da tal crise, deu entrevista ao jornal Correio da Bahia dizendo que as confusões dela com a secretaria foram decorrentes de um problema de comunicação, afirmou inclusive que o diálogo está avançado e que o Teatro XVIII, espaço que ela dirige, será reaberto ainda este mês.
Agora, cabem algumas perguntas: a crise realmente era crise ou os problemas receberam um destaque maior do que realmente mereciam? A Secretaria de Cultura já tinha tudo planejado ou algumas ações foram adiantadas para responder às críticas que estavam sendo feitas (A programação no Pelourinho, por exemplo, parece estar da mesma maneira que antes, apesar do governo afirmar que os moradores do Pelourinho terão uma atenção especial do governo)? Agora, uma pergunta que já vem com uma resposta: cadê a cobertura destas ações do governo e as análises pelos meios de comunicação e jornalistas sobre se estes atos são realmente positivos para a Bahia? Ninguém sabe, ninguém vê e a sensação que fica é que alguns profissionais da imprensa gostam de sensacionalismo e não de jornalismo. Claro que não se deve fazer jornalismo chapa branca e nem ser o diário oficial do governo, mas se deve ao menos pensar sobre se estas ações são realmente importantes para a melhoria da cultura do Estado. Afinal, não é isso que todos os críticos querem ou diziam que queriam?