domingo, 6 de julho de 2008

Após 6 anos, finalmente, Betancourt está livre


Como todos sabem a ex-senadora e ex-candidata à presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, está livre. Desde 2002, Ingrid estava sob poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). A versão do governo Uribe sobre a libertação foi de que o Exército colombiano fez uma operação de resgate impecável, na qual, os soldados colombianos fingiram-se de missionários e, desta forma, conseguiram dominar o comandante das FARC responsável pelo transporte dos 15 prisioneiros, entre eles, Betancourt.
É claro que a libertação deve ser comemorada e o governo colombiano deve ser felicitado por ter conseguido pôr fim a este seqüestro absurdo.
No entanto, algumas dúvidas pairam sobre este processo inteiro, do seqüestro à libertação. Na época em que foi raptada, Ingrid era candidata a presidente representando um partido criado por ela: o Partido Verde Oxigênio e tinha discursos nada agradáveis aos ouvidos dos políticos tradicionais do seu país.
Ingrid, filha do ex-ministro da Educação no governo militar do general Rojas Pinilla, Gabriel Betancourt, e da ex-deputada, Yolanda Pulecio, iniciou sua carreira política no Partido Liberal e saiu depois de denunciar práticas viciadas no seu partido de origem. Daí, começou uma cruzada contra a corrupção do sistema de governo colombiano atacando tanto o Partido Liberal quanto o Conservador e apelando para que os líderes do seu país chegassem a um acordo de paz com as FARC.
Quando foi seqüestrada, Ingrid anunciava aos quatro cantos a sua vontade de chegar a um entendimento com as FARC e mais do que isto, alardeava as razões que deram início às atitudes daquele grupo revolucionário. Em um documentário sobre a vida de Betancourt, ela afirma com todas as letras: a aristocracia colombiana armou os camponeses para que estes ficassem ao seu lado contra a burguesia daquele país. No entanto, após um acordo com os adversários, os aristocratas tiveram os seus interesses atendidos e deixaram os camponeses a ver navios, estes não atenderam o apelo ao desarmamento e se organizaram neste grupo marxista tão defenestrado por diversas lideranças políticas no mundo. A ex-senadora, porém, não concordava com o modus operandi nem das FARC, nem dos paramilitares, estes financiados por poderosos da Colômbia, tão ligados ao narcotráfico quanto às FARC e, simplesmente, ignorados pelas imprensas colombiana e internacional e pelos governos estadunidense e da Colômbia.
E foi quando denunciava isto tudo e apelava para um processo de paz, após se reunir com representantes das FARC, que Ingrid foi seqüestrada numa ocasião que veio a calhar ao presidente Álvaro Uribe, eleito sem ter que enfrentar a candidatura pequena, mas incômoda, de Ingrid Betancourt, que, nas eleições anteriores, havia sido eleita senadora com a maior votação do país. Não quero fazer com isto nenhuma ilação de que Uribe participou do seqüestro, apenas pontuar que, para ele, o rapto caiu como uma luva. A mesma ilação, entretanto, não posso deixar de fazer sobre a duração do rapto de Betancourt.
Retomando, Ingrid incomodava, ela e sua família, inclusive, já tinham sido ameaçadas de morte. E, pelo que eu saiba, as ameaças não foram feitas por nenhum "narcoguerrilheiro" das FARC, mas sim, por traficantes que controlavam (não tenho tanta certeza que o verbo pode ser usado no passado) o país inteiro. Agora, Betancourt está com a sua família, a cena do reencontro não me sai da cabeça. No entanto, uma pergunta também não me sai da mente: alguém pode me responder o que fazia na Colômbia o candidato à presidência apoiado pelo presidente Bush, um dos maiores aliados de Uribe, o senador Jonh McCain, exatamente no dia em que Ingrid foi solta? E olha que se tratava de uma operação tida como secreta pelo governo colombiano, inclusive, autoridades governamentais tinham soltado informações falsas para que a operação lograsse êxito. Estranho, muito estranho.
Eu, sinceramente, acho que Uribe poderia ter resolvido a parada muito antes, mas não tinha um grande interesse nisto e, além disto, o seu orgulho não permite que ele negocie com as FARC, e, por este motivo, mais de 700 famílias colombianas persistem sofrendo por causa da intolerância dos dois lados; e só agora, após Hugo Chávez, presidente venezuelano, ter conseguido com sucesso e também sem ter dado um tiro, soltar a ex-deputada e ex-candidata a vice Clara Rojas no início do ano, ele se sentiu impelido a tomar esta atitude. Antes tarde do que nunca, senhor Uribe, mas tomem cuidado com o oba-oba que estão fazendo em torno dos conservadores Uribe e Sarkozy, porque eles representam uma forma de fazer política que foi tão combatida pela senadora Ingrid Betancourt.



Foto: AP
Na foto: Ingrid Betancourt e a mãe, a ex-miss Colômbia e ex-deputada, Yolanda Pulecio


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