quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Jobim e militares: quem manda em quem?

JOBIM Eis que o ano ia acabando, ninguém esperva mais nada, o país já estava fechado para balanço quando fomos todos surpreendidos por uma mini-crise militar. Os chefes das Forças Armadas e o ministro Nelson Jobim (Defesa) pediram demissão ao presidente Lula por discordarem da proposta da Secretaria Especial de Direitos Humanos de criar uma Comissão da Verdade a fim de apurar os crimes militares na Ditadura.

Se existe um tema em que não avançamos nenhum passo é o tema das investigações dos crimes cometidos naquela época. Esta reação dos militares é absurda e fere, como disse o presidente da OAB, Cezar Britto, o direito à memória assegurado por nossa Constituição. A anistia brasileira absolveu homens da caserna que se protegiam em seus uniformes para prender, torturar e matar.

Qual o motivo para não investigar? Quem os chefes militares querem acobertar com reação tão despropositada? E afinal de contas, quem manda em quem? O ministro ou os militares? O chefe supremo das Forças Armadas não é o presidente? O propósito da criação do Ministério da Defesa foi submeter os militares ao poder civil, mas o que nós vemos em diversos governos e, em especial sob a tutela de Jobim, é uma inversão, com o poder civil, representado pelo ministro, recorrentemente recuando e sendo pressionado pélos militares.

Enquanto outros países da América Latina avançaram na investigação de suas ditaduras e o Brasil leva puxão de orelha da ONU por não ter avançado neste tema, vemos as Forças Armadas batendo na tecla de que qualquer investigação significa revanchismo. Não creio que seja este o caso. O que não dá é para em pleno regime democrático ficarmos sem saber onde milhares de militantes de esquerda foram enterrados pela tortura autorizada da Ditadura. Se Lula realmente recuar vai mostrar quem, na verdade, continua mandando em relação a este quesito.

Foto: Sérgio Dutti/AE

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