quinta-feira, 23 de abril de 2009

Fim de cota de passagem não pode aumentar salário!

Oferece-se um emprego. O candidato interessado não precisa comprovar experiência na área. Só uma boa oratória. Às vezes, nem isto. Salário: 16.500 reais + auxílio-paletó, auxílio-residência, auxílio-escritório, cota de passagens para os funcionários, assessores, cônjuges e familiares. Vagas: 594. Duração: 4 anos, renováveis por tempo infinito, dependendo do desempenho.

Agora, me digam se não é uma excelente oportunidade. O problema é que a imprensa moralista agora quer mexer na regra do jogo e diminuir este direito adquirido. Então, para mascarar vamos fazer o seguinte: diminuir a cota de passagens, restringir o uso apenas para os que assumirem a vaga - vamos ficar iguais a qualquer funcionário, mas é o preço que tem a se pagar -, e, por outro lado, aumentar o salário, equiparar com a remuneração de outros trabalhadores, os ministros do STF, ou seja, R$24.500 todo mês.

Você ainda não acredita? Nem eu. Mas é esta a proposta que está no centro dos debates da Câmara dos Deputados. Querem cortar a cota de passagens para aumentar o salário dos digníssimos. Querem aumentar, tudo bem, mas aumentem repassando apenas a inflação e olhe lá. É imoral propor isto em tempos de crise, ao mesmo tempo, em que exigem austeridade do Executivo e do mundo empresarial.

Eu até acho que eles devam ganhar passagens para visitar as suas bases, mas somente eles. Afinal de contas, eles usam os 16 mil reais para que? Não pagam a moradia, não pagam o paletó, não pagam os assessores, não pagam nem as passagens deles e dos familiares. Usam o salário todo para comer? (Ou existe algum auxílio-alimentação e eu não estou sabendo?).

A sucessão de absurdos, no entanto, não para por aí. O senador Papaléo Paes (PSDB-AP) argumentou que exerce o cargo de senador porque foi chamado pelo povo do seu estado e, por isto, o parlamentar deve ter todas as condições para exercer o seu mandato sem cair na corrupção. Imagine: se um parlamentar fala uma coisa dessa como exigir lisura e ética dos policiais que tão mal remunerados aceitam propina? A lei deve ser igual para todos.

É muita ingenuidade minha ou a função parlamentar deveria ser vista como serviço público? No Brasil, cristalizou-se a noção de que cargo público é igual a benefício pessoal. Até concordo que para parte da classe política toda condição para evitar a corrupção é pouco, mas estes benefícios não podem ser sinônimo de farra com o dinheiro público, com privilégios e abusos que se sucedem.

Um comentário:

Iara Celeste disse...

Manuca, a indignação não é apenas sua. Sabe muito do que penso sobre isto tudo e absurdos como estes precisam ser respondidos nas urnas, para que outros "Papaleos" não acreditem que podem deitar e rolar com nosso dinheiro.