sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Balanço do Carnaval - Política, Violência e Jornalismo

A manchete da página principal do jornal "A Tarde" de ontem trouxe a acusação do governador Jacques Wagner sobre o fato da "Globo" ter "difamado" o carnaval da Bahia. Será que a afiliada da Rede, a "TV Bahia", errou ao cobrir a violência do carnaval da Bahia? Lógico que não.
Os baianos e os brasileiros têm o direito de saber sobre a realidade da festa do nosso estado, a "TV Bahia" errava antes, quando o grupo político ligado ao dono da TV estava no poder estadual e os jornalistas da TV não davam a devida atenção ao tema. Aliás, noticiar não dá o direito de manipular. Vejam uma notícia do Jornal do Brasil:

"O carnaval mais violento do Brasil

Salvador. Arrastões, homicídios, balas perdidas e centenas de foliões agredidos. O carnaval da Bahia superou a festa dos outros Estados em violência. Na tarde da Quarta-Feira de Cinzas, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia tinha 1.622 registros de ocorrência, ao fim de sete dias de carnaval. Desses, seis homicídios e pelo menos 80 arrastões em ônibus. A maioria dos crimes aconteceu entre Barra e Ondina".

Foi assim que o jornal apresentou o carnaval de Salvador. (Leiam mais no link do JB clicando no título deste post). Quem conhece o carnaval da cidade sabe, porém, que as proporções da festa, em que, aproximadamente, 1,5 milhão de pessoas vão para as ruas, permitiriam números muito mais assustadores do que estes. O Jornal do Brasil esquece que o carnaval de Salvador é também o maior carnaval de rua do país. É claro que o ideal é que não fosse registrado nenhum homicídio, nenhum roubo, nenhum furto, mas com exceção do número de roubos que cresceu assustadores 60,6%, os outros dados não extrapolaram a realidade da folia baiana e houve redução na taxa de homicídios nos circuitos.
Houve manipulação de dados que pode ser percebida neste trecho da reportagem: "...seis homicídios e pelo menos 80 arrastões em ônibus". Vendo os dados da Secretaria de Segurança Pública de Salvador e sem entrar no mérito da denominação "arrastão" usada por este veículo de comunicação assim como pela Rede Globo, pode-se ver deturpações no número de homicídios, foram dois nos circuitos, e não seis. Errou-se pelo triplo. No número de assaltos a ônibus o erro do jornal foi menor já que, na realidade, foram registrados, até a quarta-feira de cinzas, 74 casos. A fonte de informação do Jornal do Brasil é a mesma deste blog: a Secretaria de Segurança Pública da Bahia. De onde saíram estes novos dados então? Ou a Secretaria não é a mesma?
Os jornais deveriam ter mais responsabilidade ao divulgar dados. Claro que é necessário ter cuidado ao sair no carnaval de Salvador, assim como deve-se ter atenção ao sair pela cidade em qualquer época do ano, porém não se deve pintar o diabo de maneira mais feia do que ele é na realidade. O carnaval deveria ser sim apenas festa, mas a violência de alguns não pode ofuscar a disposição festeira e pacífica da maioria. Ao jornalismo é dado o direito e o dever de noticiar os fatos, e não, de inventá-los.


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